A construção e seus aliados a favor da competitividade
A Tecnologia da Informação (TI), aliada à construção civil, é um dos maiores benefícios ao setor. Porém, não se trata de só operar um software, mas de gerenciar informações
Por Paulo Camillo Penna*
Publicado originalmente em Concrete Digital
A construção civil é uma atividade que reúne um grande número de agentes econômicos – e na qual a indústria do cimento se insere –, e que vem buscando um sistema cada vez mais eficiente e produtivo, evitando desperdícios de recursos materiais e humanos.
Um obstáculo recorrente a ser vencido pode ser traduzido na seguinte equação: “Como fazer para produzir mais, com a qualidade requerida, em menos tempo, com menores custos e de forma sustentável, se a evolução e a inovação no setor não ocorrem na mesma velocidade de outros segmentos da sociedade?”.
Se a compararmos, por exemplo, com a medicina ou com a informática, assistimos nestas áreas, de forma altamente positiva, a desenvolvimentos surpreendentes e muitas vezes inimagináveis em curtíssimo espaço de tempo, com significativas melhoras na acurácia e produtividade, ambas sempre aliadas à evolução e inovação.
Tal comportamento e desempenho mais lento no setor da construção, não resulta, entretanto, em inércia e desinteresse pela melhora.
Ao contrário: o setor transpira e segue orientado, ao longo dos últimos anos, na busca contínua da melhoria.
Para tanto, dispõe de aliados em diversas etapas, que ajudam a materializar uma obra durável, de alta produtividade, ambientalmente correta e com qualidade, levando em consideração, principalmente, a industrialização e a inovação.
Nos insumos, pode-se citar a evolução do cimento Portland, com distintos tipos para aplicações específicas e diferentes níveis de resistência, sem destacar ainda as significativas contribuições ambientais do produto e de sua respectiva indústria.
Se avaliarmos o concreto – que goza de hegemonia de aplicação em nosso país -, os estudos realizados permitem que se alcancem produtos adequados economicamente, com indiscutíveis facilidades de transporte, lançamento e adensamento, tudo a favor da qualidade e durabilidade.
Sem ingressar na atualização dos sistemas construtivos e de suas tecnologias de aplicação, que vêm evoluindo com base na industrialização, uma evolução também já acontece – e há bastante tempo -, na primeira etapa de todo e qualquer empreendimento: o projeto da obra.
Estamos falando do BIM, Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção, conjunto de tecnologias, processos e políticas que permite que várias partes interessadas possam, de maneira colaborativa, projetar e construir uma edificação ou instalação. Importante destacar que não se trata apenas de uma evolução do CAD. Estamos falando de um sistema no qual se pode utilizar várias ferramentas para inserir, editar ou ler informações do modelo.
Atualmente é a expressão de inovação para a indústria da construção civil, dado que seus benefícios são inúmeros e alcançam toda a cadeia produtiva.
Muitos países – e com o Brasil não é diferente – definiram o BIM como uma estratégia nacional. E tanto é verdade que, em 2009, por uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), foi criada a Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção, ABNT/CEE-134 e, há pouco mais de um ano, tornou-se obrigatória a sua utilização na execução de obras e serviços de engenharia, realizadas pelos órgãos e entidades da administração pública federal.
De forma integrada e organizada, o sistema reúne informações, especificações e todos os atributos de uma construção, permitindo assim criar um modelo em 3D da obra, muito mais detalhado e próximo do resultado final, evitando os problemas comuns nos canteiros, como erros na elaboração do projeto e na execução da obra. Com isso, o uso do BIM reduz custos (já que o desperdício de material é evitado), otimiza o ROI (retorno sobre o investimento) e agiliza todo o processo, aumentando a qualidade dos empreendimentos.
A Tecnologia da Informação (TI), aliada à construção civil, é um dos maiores benefícios ao setor. Porém, é importante saber que não se trata de só operar um software. É bem mais complexo, porque tem que gerenciar informações.
Trata-se de uma “disrupção”, utilizando todas as ferramentas tecnológicas para aprimorar, cada vez mais, as edificações e os empreendimentos.
Como destaca o professor Vanderley John, catedrático da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e um dos coordenadores do hubIC, hub de Inovação e Construção Digital (Convênio USP- ABCP/SNIC firmado em 2020 com o objetivo de criar um espaço gerador de projetos de inovação hardtech no setor da construção civil), a produtividade na construção não aumentará apenas pela implementação do BIM ou pelo aumento do grau de digitalização dos processos.
Há problemas tecnológicos a serem vencidos, frutos da pouca cultura em termos de inovação que, no caso da construção, faz com que o desafio seja ainda maior, pois qualquer decisão representa grandes recursos investidos, só contornados pela formação de consórcios.
Por isso BIM e hardtech, via hubIC, caminharão juntos para tornar a construção ainda mais altamente produtiva e, consequentemente, competitiva.
* Paulo Camillo Penna é presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC-MG, possui vivência de mais de 30 anos em altos cargos executivos no setor público, empresas e entidades nacionais representativas de diversos segmentos, tais como: Presidente da Fundação TV Minas – Cultural e Educativa de Minas Gerais, Diretor da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), Diretor Executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (ABRALATAS), Diretor e, posteriormente, Vice-Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (SINFERBASE), Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e Vice-Presidente do Grupo AES Brasil. Integrante de conselhos e fóruns empresariais no País e no exterior como membro titular do Conselho de Infraestrutura (COINFRA) e do Conselho de Assuntos Legislativos (COAL) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), membro convidado do World Economic Forum (WEF), membro titular do Departamento da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (DECONCIC), entre outros. Eleito Diretor da FIESP para o triênio 2018 – 2020. Tem ativa participação na mídia nacional e internacional.