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28/02/2013IMPRENSA, Minas Gerais, Noticias

As obras de Niemeyer em Belo Horizonte – Uma relação concreta

Em meados dos anos 40 se iniciava em Belo Horizonte uma história que marcou definitivamente a relação da capital mineira com a arquitetura contemporânea. Então prefeito da cidade, Juscelino Kubitschek, recém apresentado ao jovem arquiteto Oscar Niemeyer, encomenda um projeto arquitetônico que pretende mudar a paisagem de uma área da cidade até então desconhecida. Surgiu assim o Complexo da Pampulha, formado pela Igreja de São Francisco, a Casa do Baile construída para ser um cassino, mas que nunca foi utilizado para este fim, e o Iate Tênis Clube.

Na época o projeto causou polêmica no meio técnico, político e até mesmo religioso.  A modernidade trazida por Niemeyer, acompanhada pela pintura inusitada de Cândido Portinari e paisagismo de Burle Marx para o projeto da igreja, por exemplo, não foi imediatamente reconhecido pela cúpula católica. Somente após quatorze anos foram permitidas celebrações religiosas no local. Além do forte apelo estético, as obras do Complexo da Pampulha chamam a atenção pela experimentação. Elementos tradicionais deram lugar ao concreto armado, evidente na Igreja de São Francisco, e desenhos elaborados, formando curvas e vãos que, posteriormente, marcariam a assinatura das obras de Niemeyer.

A Praça da Liberdade, ponto turístico central de Belo Horizonte, também contém a marca do arquiteto. Ali está o Edifício Niemeyer, construído em 1954, prédio residencial de 11 pavimentos, sendo dois apartamentos por andar. A obra impressiona pelas curvas e pela ousadia. É impossível não notar o prédio em formato triangular de esquina, marcado por um jogo de sombra pelo formato das lajes, que se estende acima de uma área verde que cobre a praça, em um  dos locais mais movimentadas da região centro-sul da capital.

No lado oposto ao edifício, a Biblioteca Pública, um prédio sinuoso, formado por um “S”, mais uma ousadia em concreto ao estilo Niemeyer, abriga um vasto acervo literário. Visitado diariamente por mais de 1.500 pessoas o prédio da Biblioteca possui auditório, terraço, várias salas e generoso espaço para circulação. A obra também inaugurada em 1954 agrada aos olhares tanto pelas inovações no projeto, quanto  por permitir o diálogo entre o prédio e o espaço urbano, facilitado pelo recuo externo que possibilitou  a implantação de uma área verde. O prédio compõe, juntamente com obras importantes, o Circuito Cultural Praça da Liberdade.

Além dos tradicionais e conhecidos edifícios projetados pelo arquiteto em Belo Horizonte, fazem parte deste acervo residências das décadas de 40 e 50 e o Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, projetado originalmente para abrigar um museu, algumas repartições públicas e residências de autoridades. O Edifício JK como é conhecido pela população, um ícone no cenário urbano de Belo Horizonte, pelas dimensões e arquitetura arrojada, se tornou residencial e hoje abriga aproximadamente 5.000 moradores. O conjunto é formado por duas torres, a primeira, de 76 metros de altura, possui 23 andares e 647 apartamentos. A segunda torre possui 34 pavimentos e comporta 439 apartamentos em seus 100 metros de altura, ainda hoje o maior edifício da cidade. Nas palavras do então governador de Minas Gerais, o Edifício JK foi projetado “para atenuar a crise de moradias que afetava a classe média, proporcionando habitações de alto padrão a custos muito baixos.” Mais uma vez a ousadia dos projetos de Niemeyer pode ser percebida, mesmo com várias modificações no projeto original, anos de construção e reformas posteriores, os prédios guardam a herança da parceria entre JK e Niemeyer para a modernização da capital mineira.

Outro projeto de grande relevância para a cidade é o do Grande Teatro Palácio das Artes, projeto original de Niemeyer, posteriormente adaptado pelo arquiteto Hélio Ferreira Pinto, a obra inaugurada em 1971 recebe, até hoje, renomados eventos culturais e carrega, também, a marca de Oscar Niemeyer, a relevância das obras onde predomina o uso do concreto com grande espaço interno dotado de curvas.

 

Cidade Administrativa

Desde 2010 a Região Metropolitana de Belo Horizonte conta com mais um projeto assinado por Oscar Niemeyer, a Cidade Administrativa de Minas Gerais, conjunto de edifícios concebido para abrigar a sede do governo do estado e secretarias. Localizado em região estratégica do município, às margens da Rodovia MG10, próximo ao aeroporto de Confins, a Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves foi pensada como uma forma de racionalização do trabalho da administração estadual por unir várias instâncias do poder executivo.

Lançado em 2007, o conjunto que compõe a Cidade Administrativa é considerado o de maior representatividade no estado no que se refere às obras mineiras de Oscar Niemeyer. Lá estão presentes, de forma ainda mais evidente, os grandes vãos, as linhas curvas e o uso do seu material preferido, o concreto. De forma considerada audaciosa, Niemeyer projetou dentro deste conjunto arquitetônico a edificação com o maior vão livre em concreto suspenso do mundo, com 147 metros de comprimento e 26 de largura, prédio que hoje abriga a sede do governo mineiro.

Os cinco edifícios (Palácio do Governo, Auditório, duas Secretarias e um Centro de Convivência) são evidentemente marcados pelo caráter de Niemeyer. A concepção da obra retrata a busca pela evidência das formas e o estilo marcante, proporcionados pelo desenho e pela versatilidade do uso do concreto armado, presente em todo o conjunto.

De acordo com a administradora do projeto a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig, a obra custou aos cofres do estado R$949 milhões e utilizou materiais nobres em sua construção, além da chamada tecnologia verde, que minimiza o impacto ambiental por meio do monitoramento da qualidade da água e do ar, destinação correta de resíduos, controle de procedência de materiais, dentre outras medidas adotadas em prol do entorno dos prédios.

Informações sobre a obra

  • 804 mil m2 de área total do terreno
  • 290 mil m2 de área construída
  • 100 mil m3 de concreto (aproximadamente 46 toneladas)
  • 13 mil toneladas de aço
  • 100 mil m2 de vidro
  • Criação de, aproximadamente, 8.000 empregos diretos, indiretos e induzidos

Infraestrutura

  • Terraplenagem aterros: 500 mil m3
  • Terraplenagem escavação: 750 mil m3
  • Drenagem pluvial: 7 mil m
  • Pavimentação: 180 mil m2
  • Cabeamento estruturado: mais de 35 mil m
  • Revestimento em grama: 130 mil m2
  • Árvores plantadas: 4 mil

Palácio do Governo

  • Maior vão livre do mundo em concreto suspenso: 147 m
  • Área construída: 21,5 mil m2
  • Elevadores: 9
  • Esquadrias de vidro: 6,6 mil m2

Auditório

  • Área construída: 4,3 mil m2
  • Elevadores: 2

Secretaria

  • Área construída: 116,2 mil m2
  • Área por andar: mais de 7 mil m2
  • Elevadores: 28

Centro de Convivência

  • Dimensão: 7,5 mil m2
  • Elevadores: 6
  • Concreto estrutural: 2,5 mil m3

Catedral Cristo Rei – Um novo marco

Nos próximos anos Belo Horizonte receberá mais uma obra de referência mundial de Oscar Niemeyer, a Catedral Cristo Rei. Encomendado pela Arquidiocese de Belo Horizonte e indicada por Niemeyer como seu último projeto de catedral, o projeto foi entregue em 2011 e prevê uma torre de 100 metros de altura, uma nave interna com capacidade para até 5.000 pessoas, praça para celebrações e eventos para até 15.000 pessoas, auditório, sala multimeios e praça de alimentação. Para o diretor de Infraestrutura da Arquidiocese de Belo Horizonte, engenheiro Rômulo Albertini Rigueira, a escolha de Niemeyer se deve à importância do trabalho do arquiteto para Belo Horizonte, cidade em que ele de fato iniciou sua trajetória. A relevância do projeto indica um grande desafio. “A execução do projeto, em si, é um grande desafio. Será necessário o uso de uma tecnologia bem específica que permite, entre outras coisas, a construção das duas torres, que serão muito altas. Brevemente vamos simular num túnel de vento quais impactos a estrutura da Catedral poderá sofrer com a ação do tempo” explica Rigueira. Com previsão orçamentária de aproximadamente R$ 100 milhões, o inicio da obra está previsto para o primeiro semestre deste ano. Seis grandes etapas vão marcar a edificação da estrutura: 1) Movimentação de terra e contenções, 2) Fundação, 3) Construção da nave da Catedral (parte interna que receberá missas), 4) Primeira fase das grandes lajes (que formarão a praça), 5) Auditório e estrutura complementar e 6) Restante da Praça. Na visão de Rigueira, a catedral cumprirá um papel muito importante na história de Belo Horizonte. “A Catedral Cristo Rei é um antigo sonho, que nasceu junto com a capital mineira. Será um grande projeto e um desafio para a engenharia”, conclui.   Legado – Historicamente, o conjunto de obras de Niemeyer atrai turistas para a capital mineira e indica a profunda relação entre o arquiteto e a cidade, o que, certamente, marcou a formação de Belo Horizonte. Em termos técnicos o resultado das obras mineiras de Niemeyer evidencia a capacidade do concreto, seu grande aliado, em se moldar às mãos do artista. Para o gerente da Regional Minas Gerais da Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP/MG, Lincoln Raydan, “as obras de Niemeyer demonstram as possibilidades arquitetônicas, estruturais e plásticas do concreto, permitindo a viabilização de obras inusitadas e de arquitetura arrojada, como as que são encontradas em Belo Horizonte”. Além de seu legado arquitetônico e estético que ajudam a formar a paisagem urbana da cidade, as obras de Niemeyer marcam a personalidade de Belo Horizonte e indicam sua capacidade de romper o tradicionalismo em busca de novos desafios. Assim como as obras da Pampulha transformaram o local em um espaço nobre, cartão postal da cidade, a construção do Centro Administrativo, situado em uma região estratégica da capital, se transformou em um grande fomentador de projetos promovendo investimentos em seu entorno.

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