Calçadas de concreto: recomendações para projeto e execução
Passeios públicos de concreto exigem projeto que considere a acessibilidade dos usuários e boas práticas de execução
Matéria original do site AECweb
Texto: Juliana Nakamura
O concreto é bastante aproveitado na construção de calçadas em função de características como durabilidade, resistência e custo competitivo. Mas embora envolva práticas de amplo domínio da engenharia, essa solução não pode prescindir de cuidados de execução, sob o risco de surgirem manifestações patológicas que comprometem a vida útil e a funcionalidade dos passeios públicos.
As recomendações começam com a realização de um projeto, que contemple aspectos dimensionais e especificações técnicas — como traço do concreto, tamanho de juntas e a inserção de tela soldada — definidas em função da carga à qual o piso será exposto.
O projeto é fundamental, também, para garantir atendimento aos requisitos de acessibilidade. Para tanto, devem ser observadas a legislação municipal e a ABNT NBR 9050:2020 — Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, recentemente atualizada.
De acordo com a engenheira Erika Mota, gerente de Cidades da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), a dimensão de cada faixa do passeio (livre, de acesso e de serviço) varia em função da largura total da calçada e da legislação de cada cidade. “Infelizmente é bastante rara a elaboração de um projeto com a previsão das faixas que ordenam o espaço e com parâmetros mínimos de acessibilidade, como inclinação transversal e longitudinal, e revestimentos que garantam conforto e segurança ao pedestre”, destaca Mota.
Além da ABNT NBR 9050, outras normas de referência para orientar o projeto de calçadas de concreto são:
- – ABNT NBR 16.537:2016 — Acessibilidade — Sinalização tátil no piso — Diretrizes para elaboração de projetos e instalação.
- – Lei 13.146/2015 — Lei Brasileira de Inclusão.
- – ABNT NBR 12.655:2015 — Recebimento e controle do concreto.
Cuidados na execução
A construção de calçadas de concreto deve resultar em superfícies regulares, contínuas e antiderrapantes sob qualquer condição climática. Assim como a elaboração de um projeto, a execução precisa ser cuidadosa para evitar fenômenos como a retração plástica, que se manifesta através de fissuras na superfície do concreto fresco recém-adensado.
O problema é mais recorrente em superfícies horizontais de grandes áreas. “As primeiras manifestações da retração plástica são verificadas antes da pega do concreto e podem ser resultantes da perda de água por evaporação ou sucção do substrato”, comenta Mota, lembrando que, durante o processo de execução de passeios, a cura do concreto é um dos pontos críticos para o surgimento das fissuras, exigindo práticas adequadas para a manutenção da laje molhada.
A engenheira da ABCP cita as principais recomendações para evitar fissuras em calçadas de concreto agrupadas em três momentos:
- – Antes da concretagem — Deve-se preparar a base que vai receber o concreto (compactação, limpeza) e não se pode esquecer de molhar o substrato.
- – Durante a concretagem — É fundamental utilizar equipamentos adequados para adensamento e espalhamento.
- – Após a concretagem — A cura do concreto deve se dar por pelo menos três dias. O processo pode ser feito por molhagem ou química. Um ponto importante é proteger a local da concretagem para evitar que animais e transeuntes trafeguem sobre o piso acabado.
Vale lembrar que fissuras em calçadas de concreto também podem ter origem estrutural. Por isso é importante a abertura de juntas tão logo a resistência do concreto permita o tráfego do equipamento de corte e serragem.
Calçadas com blocos de concreto
Uma alternativa aos passeios públicos de concreto são os constituídos por pavers, peças pré-moldadas instaladas de modo intertravado, dispensando a execução de juntas de dilatação.
A possibilidade de remoção das peças sem comprometer sua integridade é um dos fatores preponderantes para a adoção dessa solução, especialmente em locais de frequentes intervenções. Segundo Erika Mota, tanto os pavers quanto as calçadas de concreto possuem alta durabilidade, desde que garantida a qualidade do produto e da execução.
Ela conta que nos passeios com pavimento intertravado, o conforto de rolamento, quando utilizado na faixa livre da calçada, é garantido por detalhes como a utilização de peças com chanfro de até 4 mm e assentamento em espinha de peixe a 90° em relação à direção preferencial do percurso com cadeiras de rodas.
Colaboração técnica: Erika Mota, engenheira civil pós-graduada em marketing e especialista em gestão pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Lidera há dez anos o Programa Soluções para Cidades e é gerente de Cidades da ABCP.