Ceará faz opção certa para suas rodovias
* Eduardo Barbosa de Moraes
A ausência de boas estradas tem sido um grande obstáculo para alavancar o crescimento de várias regiões do País. Parte do desenvolvimento do agronegócio, por exemplo, depende da recuperação e da construção de rodovias. Com estradas seguras e bem executadas, as empresas podem reduzir seus custos de viagem e fretes rodoviários, tornando-se mais competitivas. Contexto também contribuiria para que os preços dos produtos brasileiros, inclusive dos grãos, ficassem mais atrativos para a exportação. Em suma, construir e restaurar estradas colabora para a redução do Custo-Brasil.
Não é de hoje que o Ceará é um dos Estados do Nordeste que sofre com a falta de rodovias de qualidade, limitando seu potencial de desenvolvimento. Estradas esburacadas, falta de manutenção e soluções inadequadas para o volume de tráfego de determinadas vias comprometem a sua malha viária, atingindo diretamente os cofres públicos e, o que é mais preocupante, a segurança das pessoas.
Mas esse cenário, em breve, promete mudar. Neste ano, dois passos importantes foram dados para a construção de um sistema viário durável. Os projetos de duas obras de destaque na economia da região foram recentemente licitados contemplando uma tecnologia mais adequada para estradas de tráfego intenso, pesado e contínuo: o pavimento de concreto. O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) e o Governo do Ceará tomaram a decisão mais acertada ao escolher essa solução para a duplicação da BR-222, em uma extensão de 32 km, entre Fortaleza e o Porto de Pecém, e da BR-020, anel viário da capital, com 32 km.
O pavimento de concreto é recomendado em todo o primeiro mundo para fluxos de tráfego acima de 15 mil veículos/dia, como corredores urbanos, rodovias com escoamento de safra, regiões portuárias, regiões de alta ocorrência de transporte de carga e outros. Nos Estados Unidos, mais de 20% das rodovias são de concreto. Na Alemanha as estradas de alta velocidade – autobans – são de concreto. Na América Latina, o Chile é o País que mais o utiliza em sua malha rodoviária. Já no Brasil, apenas 4 mil km de estradas foram construídos com a tecnologia, o que equivale a, aproximadamente, 2,5% das estradas pavimentadas. Muito pouco se comparado ao índice mundial, que está entre 25% e 30%.
Já era tempo do País voltar a fazer estradas que durem mais. A escolha do Ceará para as obras do anel viário e da BR-222 são um bom exemplo disso. Se executada dentro das regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), uma pista feita na moderna tecnologia do pavimento de concreto chega a ter uma vida útil acima dos 40 anos.
Na região Nordeste há um exemplo concreto para constatar os números. O Recife é considerado a capital nacional do pavimento de concreto por ter mais de 254 km de vias executadas no sistema construtivo de concreto, ainda artesanal da época, mas que permanecem em bom estado de conservação há mais de 40 e, em alguns casos, 50 anos de construção. É importante ressaltar, ainda, que o gasto com manutenção desse tipo de pavimento chega a ser até dez vezes menor que nas outras opções de pavimentação.
A cor clara do material é outra vantagem que permite com que a pista fique mais visível à noite, sendo possível uma redução de gastos públicos com energia elétrica em 30%. Essa mesma coloração clara também colabora com a diminuição dos impactos ambientais por reter menos calor ao longo do dia, tornando a temperatura ambiente mais amena. Sem dúvida, a interferência nos ecossitemas que margeiam as rodovias é bem menor.
A tecnologia também implica em mais segurança para os motoristas, pois sua distância de freagem em pista molhada é até 40% menor que outras soluções. Estudo da Arizona State University (EUA) demonstram ainda que, quanto mais pesado for o veículo, maior é a economia de combustível, que pode chegar a 11%, em função da rigidez do pavimento.
De acordo com o Banco Mundial, cada dólar investido em uma estrada de concreto corresponde a uma economia de três dólares em custo operacional. Acrescenta-se ainda a todas essas vantagens o fato do cimento ser um produto genuinamente nacional. Incentivar o seu uso, portanto, é promover empregos no Brasil.
A pavimentação de concreto foi utilizada intensamente nas estradas brasileiras até a década de 70. Nos anos 80 e 90 a produção de cimento foi empregada na área de habitação. Atualmente, no entanto, o cenário é outro. O desenvolvimento internacional, hoje presente no mercado nacional, na forma de novas tecnologias e equipamentos para execução do pavimento de concreto, tornaram essa opção bastante competitiva já no custo inicial de construção de uma rodovia, chegando a ser, inclusive, mais barata em alguns casos.
Somados aos benefícios já mencionados, tem-se uma solução vantajosa. Daí seu reingresso na malha viária brasileira e o motivo pelo qual ela está sendo utilizada, atualmente, nas maiores obras rodoviárias brasileiras, como na duplicação de BR-101 entre os Estados de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Alagoas e Sergipe, e na construção do Rodoanel, em São Paulo. E, logo em breve, nas rodovias BR-222 e BR-020, no Ceará.
* Engenheiro e gerente regional Norte/Nordeste da Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP