Chapas cimentícias são solução para fachadas
Redação Portal AECweb / e-Construmarket
Foto: AECweb
Resultantes da mistura de cimento Portland, agregados, adições e aditivos, as placas cimentícias também recebem em sua composição o reforço de fibras, fios, filamentos ou telas. O amianto era outro elemento presente na fabricação da solução, mas seu uso não é mais permitido pela ABNT NBR 15.498 — Placa de fibrocimento sem amianto — Requisitos e métodos de ensaio.
“Alternativa técnica para substituir as fibras de amianto já é empregada pela indústria brasileira há bastante tempo”, afirma o engenheiro Cláudio Oliveira Silva, gerente da Área de Inovação e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), lembrando que o produto é denominado como placa plana cimentícia pela norma brasileira.
Processo de fabricação
A solução pode ser fabricada pelo processo Hatschek, que consiste na suspensão bem diluída de cimento, fibras e aditivos. A mistura passa por cilindros, que a captam por sucção, removendo o excesso de água e formando mantas. “As placas são formadas por sucessivas camadas de acordo com a espessura desejada, sendo moldadas ainda no estado fresco”, diz o engenheiro. Outros processos de fabricação são a extrusão ou por conformação em fôrmas.
“As placas são formadas por sucessivas camadas de acordo com a espessura desejada, sendo moldadas ainda no estado fresco.” Cláudio Oliveira Silva
Especificação
Para especificar o produto, o profissional precisa estar atento às determinações da ABNT NBR 15.498. A norma estabelece os requisitos e métodos de ensaio, assim como as condições de recepção do material. Estabelece, ainda, dois tipos diferentes de placa, classe A e classe B.
A classe A é indicada para aplicações externas sujeitas à ação direta do sol, da chuva, calor e umidade. “A solução pode ser fornecida com ou sem revestimento”, informa Oliveira.
Já a classe B é composta pelos produtos usados em aplicações internas e, também, nas externas que não estarão submetidas à ação direta de intempéries. “As placas de ambas as classes são subclassificadas de acordo com sua resistência à tração na flexão – as da classe A em quatro categorias e as da B em cinco”, fala o engenheiro.
“Erros de especificação ou falta de qualidade do produto podem acarretar fissuras, empenamentos, esborcinamentos e desprendimento do revestimento.” Cláudio Oliveira Silva
Quesitos importantes que também devem integrar o projeto são a espessura e a categoria (resistência à ruptura), definidas de acordo com as condições estruturais da edificação. “Erros de especificação ou falta de qualidade do produto podem acarretar fissuras, empenamentos, esborcinamentos e desprendimento do revestimento”, ressalta o especialista.
Usos
Para o uso em fachadas, devem ser usadas as placas da classe A. Todas as condições de aplicação devem ser consideradas no projeto estrutural, principalmente, levando em consideração as cargas exercidas pelos ventos e deformações da estrutura. O produto pode ser instalado já com acabamento final, disponível em diversas cores e texturas, dispensando até mesmo posterior pintura.
“Nas placas convencionais, pode-se aplicar algum tipo de revestimento de argamassa ou textura do lado externo. Além desses acabamentos, a face interna recebe bem o gesso ou papel de parede”, diz Oliveira. As chapas são usadas ainda como divisórias, fechamentos de paredes de vedação internas, forros, fechamento de shafts, prateleiras e mobiliário urbano.
Logística
O ideal é que as placas cheguem ao canteiro após finalizada a execução da estrutura e cobertura. Os produtos precisam ser entregues na quantidade adequada ao ritmo de instalação da vedação, evitando-se assim a estocagem de grande quantidade de materiais por períodos prolongados. O armazenamento na obra deve seguir as orientações do fabricante, uma vez que falhas no empilhamento ou armazenagem em local inadequado causam deformações e outros danos.
Instalação
As chapas podem ser aparafusadas ou pregadas nas estruturas (steel frame ou wood frame). Outras opções são os produtos autoportantes. “A fixação das placas deve ser compatível com a movimentação e deformação previstas para a estrutura da edificação. Os detalhes da instalação devem constar no projeto para execução”, recomenda o especialista. Durante todo o procedimento, é indispensável a presença de mão de obra qualificada.
Vantagens x desvantagens
O sistema apresenta como principais pontos positivos seu baixo peso estrutural, resistência a impacto e umidade, além da compatibilidade com a maioria dos revestimentos. As placas têm grande flexibilidade de projeto, praticamente não havendo limitação arquitetônica. “Também não é inflamável e apresenta resistência elevada a fungos, insetos e roedores”, detalha Oliveira.
Se o objetivo for alcançar desempenho térmico e acústico, pode ser necessária a especificação de materiais isoladores entre as placas. “Para obter todas as vantagens oferecidas pela solução, o sistema deve ser previsto e definido na etapa de projeto do empreendimento, considerando todas as interfaces e interferências com os demais sistemas, como instalações elétricas e hidráulicas”, fala o engenheiro.
Chapas cimentícias x Alvenaria
Por suas características de montagem, a velocidade de execução das chapas é a principal vantagem em relação à alvenaria. Outro benefício é quando o sistema é bem planejado e consegue até eliminar a geração de resíduos, o que não ocorre nas alvenarias com blocos cerâmicos não modulares. “A perda de blocos e a necessidade de cortes geram grande quantidade de resíduos, retrabalhos e desperdício de materiais”, comenta Oliveira.
Manutenção
A manutenção da fachada deve cumprir as especificações da norma de desempenho ABNT NBR 15575. Além disso, a construtora é responsável por informar a periodicidade de intervenções, devendo indicar a necessidade de repinturas ou reaplicação de resinas. “O sistema adotado pode ser ensaiado quanto à sua durabilidade, conforme especificado na ABNT NBR 15.575. Ao fabricante da placa, cabe indicar as condições a serem respeitadas para se atingir a máxima durabilidade”, fala o engenheiro.
Custo x benefício
Além da rapidez de execução, o sistema também facilita o acesso às instalações, diminuindo os custos com reparos ou acréscimos nas instalações elétricas e hidráulicas. “Também torna mais simples as alterações de layout, além de possibilitar o reuso das placas e estrutura de fixação no caso de reformas e demolições”, finaliza Oliveira.
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Colaboração técnica
Cláudio Oliveira Silva – Mestre em engenharia na área de materiais de construção pela Escola Politécnica da USP. Tem pós-graduação em Administração Industrial pela mesma instituição e especialização em Marketing pela ESPM. É gerente da Área de Inovação e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Responsável pelo desenvolvimento de produtos e ferramentas, focando o aumento de competitividade econômica/ambiental dos produtos à base de cimento. É atuante na ABNT, participando na elaboração e revisão de normas de pavimentos intertravado, alvenaria estrutural, tubos de concreto, telhas de concreto, agregados reciclados entre outros. Também ocupa o cargo de professor de Materiais de Construção na Universidade São Judas Tadeu/SP.