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19/10/2011Artigos, IMPRENSA

Concreto ainda é a melhor opção para o lote de BR 101

O contorno do Recife possui, sem dúvida, o maior fluxo de veículos de carga de toda a BR101 Nordeste. Já duplicado há mais de trinta anos, esse trecho de 62 Km entre o bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, e a cidade de Igarassu, foi executado em pavimento de concreto, no sistema construtivo de que se dispunha há 3 décadas atrás.

Desde que foi inaugurado, este trecho e da rodovia praticamente não recebeu manutenção na pista e no acostamento, não havendo nem sequer substituição das placas de concreto com patologias, mantendo durante esse tempo condições normais de tráfego. Nas poucas vezes que sofreu manutenção, em vez da substituição das placas, a rodovia sofreu um capeamento paliativo de asfalto, não recomendável tecnicamente.

Em 2003, a comunidade de pavimentação local, incluindo a Universidade Federal (UFPE) e a de Pernambuco (UPE), a Secretaria de Transportes do Estado e a convidada Universidade de São Paulo (USP) executou, sob coordenação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), um trecho experimental da BR 232, no km 73, dentro do sistema overlay (placas de concreto construídas sobre as existentes). Após quatro anos, o pavimento encontra-se em perfeito estado de conservação e de uso. Essa experiência foi feita, na época, como solução futura para a recuperação em concreto – o chamado overlay – do lote 9 da BR 101, que contorna o Recife.

A solução em concreto é recomendada e largamente utilizada em todo o primeiro mundo para fluxos de tráfego acima de 10 mil veículos/dia em rodovias com escoamento de safra, regiões portuárias, regiões de alta ocorrência de transporte de carga e outros, como corredores urbanos de ônibus, marginais e perimetrais de grandes cidades. O trecho da BR 101 mencionado chega a mais de 30 mil veículos/dia e, por isso, a única tecnologia durável é o pavimento de concreto. Qualquer outra alternativa que não seja em concreto não é adequada tecnicamente.

O momento da economia nacional que promove grande competitividade, somado ao elevado custo do petróleo, inclusive na nossa região, faz com que o sistema construtivo em concreto tenha um investimento inicial multo competitivo em relação ao asfalto, chegando, em alguns casos, a ser mais barato. Outra vantagem apresentada pelo concreto é o conforto de rolamento dos veículos, que se mantém inalterado ao longo da vida útil do pavimento, distinto da trepidação presente no asfalto deteriorado, à medida que a tempo passa. E essa qualidade de rolamento do pavimento de concreto é devida à utilização de máquinas pavimentadoras de tecnologia de ponta, como as vibroacabadoras de fôrmas deslizantes.

Ao longo de 2006, a empresa de consultoria e projeto ATP elaborou o projeto da recuperação desse trecho da BR 101 (lote 9) em overlay com a UNIT / DNIT de Pernambuco.  A ABCP, em face de seu conhecimento sobre a tecnologia da pavimentação em concreto, foi solicitada a acompanhar a elaboração do projeto, por intermédio de seu escritório regional Norte Nordeste.

Porém, apesar de tudo, em janeiro deste ano uma notícia no Jornal do Commercio afirmava que o trecho seria licitado em asfalto, alegando que mesmo proporcionaria uma economia de um pouco mais de 10%.  A referida economia resulta irrelevante em relação ao investimento de uma obra desse porte, ao rememorar às vantagens e retornos financeiros que o Estado teria em face da economia com manutenção – em um prazo máximo de cinco anos – pela adoção do concreto.

Outras vantagens e benefícios seriam oferecidos a população:  uma estrada mais durável, sem buracos ou interferências na via, uma menor distância de frenagem, colaborando para a diminuição do número de acidentes, maior economia de energia e uma melhor visibilidade noturna, devido à cor clara da pista. Com a utilização do pavimento de concreto, há também uma economia de combustível para caminhões de, em média, 11%, segundo estudo da Arizona State University (EUA). Além disso, de acordo com o Banco Mundial, cada dólar investido em uma estrada de concreto corresponde a uma economia de três dólares em custo operacional.

A ABCP, como uma entidade técnica de excelência e que tem na palavra qualidade seu mais importante mandamento, dedica-se há mais 70 anos para o estudo tecnológico de sistemas construtivos à base de cimento duráveis e entende que não se deve ignorar a alternativa em concreto, principalmente num Estado, cuja Capital é considerada uma cidade de vanguarda e a capital do pavimento de concreto.

Deve-se lembrar também que uma obra deste vulto executada em pavimento de concreto, resulta em uso de expressiva quantidade de cimento, sendo que todo o ICMS arrecadado permanece nos cofres do Estado.

O contorno Recife da BR 101 (lote 9) é um patrimônio de Pernambuco, é motivo de orgulho para todos nós, ao lado de estradas que chegam a durar mais de 50 anos. O Estado é líder nacional de estradas com pavimentação em concreto, possuindo mais de 300 km de rodovias com a tecnologia. O Recife também se destaca uma vez que sua malha urbana possui inúmeras vias com concreto. Para se ter uma idéia da importância disso, a qualidade e a durabilidade de nossas estradas foi demonstrada em pesquisa recente da revista Quatro Rodas, que não considerou precário, quanto à conservação, nenhum dos trechos analisados aqui.  O maior destaque do estudo foi a duplicação da BR 232, rodovia considerada como uma das melhores não privatizadas do País, segundo a revista.

Nesse sentido, seria prudente e coerente com as necessidades de melhoria da malha rodoviária brasileira, levar em conta a menção feita pelo presidente Lula, em visita às obras da BR 101 NE, ao afirmar que a tecnologia do pavimento de concreto deverá balizar para as estradas e aeroportos do País uma qualidade de serviço que já há algum tempo existe na Europa, mas que ainda há em pouquíssimas rodovias do Brasil.

* Eduardo Barbosa de Moraes é engenheiro civil e gerente N/NE da ABCP.

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