Custos com insumos das cimenteiras disparam
Por Emelyn Vasques / Diário do Comércio
10 de março de 2022 – 00:29
As reformas nas casas de milhares de brasileiros durante a pandemia da Covid-19 para melhorias do ambiente de trabalho ou lazer movimentaram a indústria do cimento em 2020. O sinal de recuperação para o setor, que, de 2014 a 2018, sofreu com o fechamento de fábricas e capacidade ociosa devido a um período de baixas no consumo, no entanto, não se estendeu para 2022. Isso porque, neste momento, a indústria amarga os altos preços de insumos básicos para a produção do cimento, principalmente após a deflagração da invasão russa à Ucrânia.
O cenário descrito é preocupante, conforme avalia o presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Cimento (Snic), Paulo Camillo Penna, e já reflete na retração percebida pelo setor no primeiro bimestre do ano. Apesar do crescimento registrado nas vendas de fevereiro, de 1,9%, com a comercialização de 4,8 milhões de toneladas do produto, o resultado para os dois primeiros meses do ano é 3,5% menor que o obtido no mesmo período de 2021.
Prejuízo particularmente sentido em Minas Gerais, Estado responsável pela produção de 22% a 24% do cimento nacional, conforme dados do sindicato. As perspectivas de cenários mais animadores ainda são inexistentes. Esse quadro, ainda segundo Penna, se arrasta desde 2020. Paralelo ao crescimento de vendas daquele ano, a indústria tenta driblar os valores dos insumos. Em primeiro momento, a pandemia e a retração da economia e alta da inflação foram os principais indutores dos preços elevados.
Apenas em 2021, o aumento em componentes utilizados na indústria chegou a 96%, no caso do gesso, e 98%, no caso do coque de petróleo, além das altas registradas em refratários (40%), frete rodoviário (28%) e na própria energia (69%) utilizada pelas fábricas e que representa mais da metade dos custos investidos na produção.
Agora, mais uma vez, é o preço do coque do petróleo que representa um entrave. Para se ter ideia da diferença dos valores, conforme dados do Snic, em 2019 o preço do coque girava em torno de US$ 50. Imediatamente antes da invasão russa à Ucrânia, o preço chegou a US$ 180, valor que se soma, ainda, ao frete marítimo, que, no mesmo período de referência, saltou de US$ 18 para US$ 35.
Desafios internos
O desafio da indústria de cimento não está somente ligado aos fatores externos e da importação de insumos, já que a inflação, fechada acima de 10% em dezembro passado, reduz o poder de compra do brasileiro. “Boa parte do crescimento que a gente vivenciou em 2020 se deu pela ‘autoconstrução’, quando as pessoas utilizaram seus recursos para reformar e construir. As casas deixaram de ser um local apenas de refúgio para ser um lugar de trabalho e lazer, o que contribuiu significativamente com a demanda. A realidade atual é de redução da autoconstrução em razão do aumento da inflação, da taxa de juros e do alto endividamento. As pessoas vão canalizar seus recursos agora para itens mais básicos, como é o caso da alimentação e do vestuário”, avalia Paulo Camillo Penna.
Ainda em relação ao desempenho dos primeiros meses, o presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Cimento lembra, ainda, que as chuvas do início do ano que afetaram todas as regiões com intensidade assustadora, com exceção do Sul do País, também frearam o consumo e as construções.
Como alternativa à dependência do coque de petróleo, que, futuramente, pode ajudar o setor em momentos de majoração generalizada, Paulo afirma que a indústria brasileira de cimento já busca a diversificação do combustível para seguir atendendo à demanda e reduzir as emissões de carbono. Os produtos que estão sendo testados, neste momento, são resíduos industriais, lixo doméstico, biomassa, caroço de açaí e palha de arroz.
Fonte: Diário do Comércio (Leia aqui a matéria)
>> Leia também a entrevista do presidente Paulo Camillo (“Produtores brasileiros de cimento estão cautelosamente otimistas”) para o site BNamericas
>> E a matéria “Indústria vê cenário preocupante para 2022”.