Destinação sustentável do lixo ainda é um enorme desafio no Brasil
O total de lixo produzido no Brasil já atingiu a marca de 80 milhões de toneladas, o que dá, em média, 382 quilos de resíduos descartados por pessoa no país durante o ano. No entanto, em 2023, apenas 58,5% dos resíduos sólidos urbanos gerados foram encaminhados para destinação ambientalmente adequada.
Os dados do “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2024”, divulgado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), chamam a atenção para soluções capazes de transformar o problema dos resíduos em oportunidade de geração de energia.
De acordo com o estudo, 41,5% do que foi descartado pelos brasileiros e encaminhado para disposição final tiveram destinação inadequada, como os lixões, que receberam 35,5% dos resíduos gerados no país, ocasionando graves prejuízos ao meio ambiente e à qualidade de vida da população.
A indústria brasileira do cimento está empenhada em contribuir com uma destinação mais sustentável do lixo. Dados do relatório “Panorama do Coprocessamento 2024″, recém publicado pela ABCP, mostram que a cadeia cimenteira brasileira coprocessou cerca de 3,25 milhões de toneladas de resíduos em 2023, a maior marca da série histórica. Segundo o documento, a tecnologia evitou a emissão de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera em relação aos métodos mais tradicionais de produção, que envolvem o uso do coque de petróleo como combustível.
Atualmente 32% da matriz energética do setor é composta por fontes renováveis e mais limpas. Resíduos domésticos pós-triagem continuam sendo a principal alavanca de crescimento e deverá representar quase 35% da energia do setor até 2050.
A matriz energética atual está dividida em 68% de fósseis, 18% biomassas (cavaco, licuri, babaçu, caroço do açaí, carvão vegetal, entre outros) e 14% resíduos (pneus inservíveis, perigosos e urbano).
Diante desse cenário, a produção de CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos), com destinação para o uso em fornos das cimenteiras, representa uma grande oportunidade para o setor cimenteiro e para a sociedade como um todo. Trata-se de um substituto energético do coque de petróleo, utilizado como combustível para a fabricação de cimento, que traz inúmeros benefícios ambientais e sociais.
Com a substituição do coque de petróleo pelo CDRU, é possível reduzir significativamente as emissões de carbono, contribuindo para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Além disso, o coprocessamento de novas fontes energéticas e renováveis nas fábricas de cimento ajuda a diminuir a quantidade de resíduos dispostos em aterros sanitários, evitando passivos ambientais e problemas de saúde pública.
A partir de uma forte atuação regional, a indústria do cimento está acelerando cada vez mais o desenvolvimento de CDRU no Brasil para fins de coprocessamento, seguindo como diretriz o Roadmap Tecnológico, buscando o aumento de recicláveis, encerramento dos lixões e redução da disposição em aterros.
Neste sentido é possível citar o trabalho realizado na Região Metropolitana de Curitiba, cujos rejeitos da coleta seletiva gerados pelas cooperativas de reciclagem (formalizadas) são agora destinados às fábricas de cimento da região.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte existe ainda projeto em curso, por meio da parceria com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), no âmbito do Programa Euroclima+, financiado pela União Europeia. O objetivo é promover o desenvolvimento ambientalmente sustentável e resiliente na América Latina, tendo como estruturador do projeto a agência alemã GIZ.
No entanto, é necessário avançar ainda mais nessa agenda para que se cumpram as políticas públicas, e principalmente faltam incentivos necessários para impulsionar o descarte adequado e o aumento da reciclagem no país.