Indústria do cimento celebra o Bicentenário da Independência do Brasil
Período de soberania do País coincide com a adoção do produto na construção civil mundial
O Brasil comemora, no dia 7 de setembro de 2022, o Bicentenário de sua Independência. Nessa data, há duzentos anos, o então príncipe regente D. Pedro (depois consagrado D. Pedro I) protagonizou a ruptura da então colônia com o império português às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, no evento que ficou conhecido como Grito do Ipiranga – “Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade. Independência ou morte”, gritou. O ato fez nascer o Império do Brasil, que perdurou por 67 anos, até a Proclamação da República, em 1889.
Nestes 200 anos de nação independente, o Brasil evoluiu a ponto de ocupar lugar entre as 12 maiores economias do mundo. E é aqui que entra a indústria do cimento.
A presença do cimento cresceu e se consolidou ao longo dos últimos 100 anos. Primeiro, pela expansão urbana e verticalização das cidades. Depois, pelo incremento da indústria brasileira e da infraestrutura (rodovias, portos, barragens e aeroportos), causa e efeito do desenvolvimento econômico do País.
Assim, novas aplicações surgiram e fizeram evoluir os sistemas construtivos à base de concreto, como estrutura predial, construção pré-fabricada, alvenaria com blocos, pavimentos e blocos intertravados, barragens e paredes de concreto, além de revestimentos de argamassa e mobiliário urbano. Essas soluções, que hoje fazem parte do know-how da engenharia nacional, tiveram apoio técnico e mercadológico da indústria do cimento – principalmente por intermédio da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), criada em 1936 -, de modo direto ou no incentivo a novas instituições representativas dessas tecnologias, como Abai (argamassas industrializadas), ABCIC (Pré-fabricados de concreto), Abesc (concreto usinado), ABTC (tubos de concreto) e BlocoBrasil (blocos de concreto e pavers).
Além de apoiar o desenvolvimento tecnológico da construção civil nesse período, a indústria nacional foi – e segue sendo – pioneira em temas de absoluta importância para a sociedade, como a certificação da qualidade de produtos e derivados, normalização técnica, sustentabilidade, meio ambiente, eficiência energética e mudanças climáticas – tema este que mobiliza fortemente as empresas do setor atualmente.
O início
Uma curiosidade: o cimento Portland é um material tão recente quanto o Brasil soberano. O pó fino resultante da queima de pedras calcárias e argila, de cor e propriedades de durabilidade semelhantes às rochas da ilha britânica de Portland, foi patenteado pelo inglês Joseph Aspdin apenas dois anos depois da Independência do Brasil, em 1824.
Porém, assim como o advento da República, foi nas últimas décadas do século XIX que o Brasil fez suas primeiras tentativas de iniciar a produção do aglomerante. A primeira fábrica de cimento brasileira foi inaugurada em 1897 pelo comendador Antônio Proost Rodovalho, mas ela teve vida curta. Oficialmente, o marco da implantação da indústria brasileira de cimento ocorreu em 1924, com a unidade da Companhia Brasileira de Cimento Portland em Perus-SP, segundo Arnaldo Battagin, in https://abcp.org.br/cimento/historia/). Desde então, a indústria brasileira de cimento caminhou pari passu com o desenvolvimento do Brasil, seja na transformação das cidades (habitação, vias urbanas) seja na ampliação da infraestrutura.
Retrospecto – Primeiras obras
Historicamente, a começar dos anos 40, a indústria do cimento vem contribuindo em inúmeros empreendimentos ligados ao desenvolvimento do país. Um deles foi a pavimentação pioneira com solo-cimento de uma área do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro-RJ, e de um trecho de estrada em São Miguel Paulista-SP com concreto, ambas em 1940 (ano em que a ABCP participava da fundação da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e da elaboração da primeira norma técnica brasileira, a NB-1).
Esses empreendimentos abriram caminho para outras obras de pavimentação em solo-cimento e concreto. Caso, por exemplo, das ruas em Recife-PE, das Vias Anchieta e Anhanguera e do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Mas a pavimentação foi só o início de uma larga aplicação do cimento e do concreto.
Nos anos 50, o cimento compôs a matéria-prima emergente para a produção de habitações, com o lançamento das primeiras fábricas de blocos de concreto, produto que hoje é um dos líderes da construção de moradias no Brasil. Nessa mesma década, em 1953, era criado o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento – SNIC. A década seguinte teria como destaque a Barragem do Funil, no Rio de Janeiro, primeira grande barragem no Brasil do tipo abóbada de dupla curvatura em concreto de altura superior a 50 m.
Os anos 70 foram de organização institucional, ampliação da contribuição tecnológica e presença mercadológica. Em 1972, o setor viu surgir o Instituto Brasileiro do Concreto – Ibracon e em 1976 – 40 anos após a sua criação -, a ABCP fundava o Centro Tecnológico do Cimento (CTC) como instalações definitivas, e atuais, na Cidade Universitária, Campus da Universidade de São Paulo (USP), que originou a Divisão de Tecnologia do Cimento, englobando os departamentos de Química, Físico-Química, Cimento e Concreto e Solo-Cimento. No mesmo período, a ABCP se fez representar nas principais capitais do País pelos seus Escritórios Regionais (https://abcp.org.br/escritorios-regionais/).
Na virada do século XX, o pavimento de concreto ressurgiu no cenário brasileiro com a chegada, em 1998, da vibro-acabadora de última geração da empresa norte-americana Gomaco e o início dos estudos de viabilidade do Rodoanel de São Paulo, previsto para interligar 10 rodovias e 18 cidades. A ABCP apoiou esta e outras obras, como as do Contorno Sul, em Curitiba; Terceira Perimetral, em Porto Alegre; marginal da Via Dutra, próxima ao acesso ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos-SP; faixa do sistema Anchieta- Imigrantes; e marginal da rodovia Castelo Branco.
Anos 2000 – Tecnologia em expansão
O novo milênio teve outros projetos anunciados em concreto, como a duplicação da BR-232, entre Caruaru-PE e Recife; recuperação da Free-Way (BR-290) com whitetopping (cobertura de concreto sobre asfalto desgastado), em Porto Alegre; terminal de cargas e vias de acesso do porto de Paranaguá-PR; e Rodoanel de São Paulo, cujo primeiro trecho, em pavimento de concreto, foi inaugurado em 2002.
Na área de edificações, a despeito de sua presença predominante no cenário de São Paulo, o concreto foi destaque no então terceiro prédio mais alto da cidade (162 m), o edifício E-Tower (projeto do escritório Aflalo & Gasperini), que resgatou a discussão sobre o concreto de alto desempenho (CAD) – que, nessa obra, atingiu resistência de 148 MPa, fato inédito no Brasil. Na mesma época, o arquiteto Ruy Ohtake presenteava os paulistanos com o excepcional Hotel Unique, Oscar Niemeyer entregava a Curitiba o Novo Museu e o português Álvaro Siza assinava o projeto do Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, com estrutura de concreto branco.
A cidade de Natal despontava então com a construção do shopping center Midway Mall (220.000 m2 de área construída), recordista brasileiro em consumo de pré-fabricados de concreto, enquanto os Centros Educacionais Unificados (CEUs), da Prefeitura paulistana, adotavam a construção industrializada em mais de 20 obras.
Novas tecnologias à base de cimento surgiram no País, como o sistema parede de concreto, que contou com forte liderança da indústria do cimento para seu desenvolvimento, o que resultou em larga utilização na área habitacional. No campo mercadológico, foram destaques a organização e a qualificação do setor de artefatos de concreto (Programa de Desenvolvimento Empresarial – PDE), assim como o incentivo a Soluções para Cidades com sistemas cimentícios e a organização da cadeia produtiva da construção em torno do mercado de reformas (Clube da Reforma) e da qualidade das edificações (Comunidade da Construção).
Meio ambiente, uma prioridade
No plano ambiental, a indústria do cimento, pioneira em muitos aspectos, defendeu a Avaliação do Ciclo de Vida (2013), inaugurando programa voltado ao impacto dos artefatos de concreto no meio ambiente, e lançou o Mapeamento Tecnológico do Cimento (2014), que resultou no Roadmap Tecnológico do Cimento em 2019. O estudo somou forças ao esforço mundial pela redução das emissões de gases de efeito estufa e por uma economia de baixo carbono, que já vinha ocorrendo no setor havia cerca de 30 anos.
Iniciativas como o uso de matérias-primas alternativas ao clínquer (chamadas de adições), como escórias siderúrgicas, cinzas de termoelétricas e pó de calcário; aproveitamento de combustíveis alternativos, como biomassas e resíduos, no coprocessamento; e medidas de eficiência energética, ao investir em linhas e equipamentos de menor consumo térmico e elétrico, resultaram na redução de 18% na intensidade de carbono do setor entre 1990 e 2019, enquanto a produção de cimento cresceu cerca de 220% nesse período. (leia mais em https://abcp.org.br/industria-brasileira-faz-a-sua-parte-na-reducao-de-emissoes/).
Em 2020, seguindo sua natureza inovadora, a indústria do cimento, por meio da ABCP e do SNIC, uniu-se à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) em um acordo de cooperação técnica para a criação e operação, em regime multiusuários, do primeiro espaço cooperativo de inovação e construção digital de base industrial do Brasil, o hubIC (https://abcp.org.br/usp-e-abcp-criam-hub-de-inovacao-para-construcao-digital/) – iniciativa também pioneira, que coroa a contribuição da indústria do cimento ao desenvolvimento do Brasil na ocasião do seu Bicentenário de Independência.