O Brasil frente aos desafios globais de descarbonização
Artigo para a CNN
Paulo Camillo Penna – Presidente da ABCP
A aprovação em caráter terminativo pelo Senado do Projeto de Lei (PL) 412/22, que regulamenta o mercado de carbono no país, teve em sua construção ativa participação da indústria do cimento. O setor, que internacionalmente foi o primeiro a firmar um compromisso de neutralidade climática, em escala global, dentro do programa Race to Zero da ONU, agora avança no seu compromisso de neutralidade climática no Brasil.
Em razão do seu processo industrial e de suas características específicas, a indústria cimenteira nacional é uma atividade intensiva no consumo de minérios e energia. Entretanto, em função de ações que vêm sendo conduzidas há décadas pelo setor, bem como do próprio perfil de emissões do Inventário Nacional de Gases do Efeito Estufa, confere ao Brasil uma posição de destaque responsável por 2,3% – mais precisamente um terço da média mundial (7%).
A agenda de carbono é o maior e mais importante compromisso com o meio ambiente já firmado pela indústria do cimento. Tanto que, há 20 anos, os maiores grupos cimenteiros do mundo se uniram para criar o que é hoje o maior banco de dados de emissões de uma atividade industrial no mundo.
Atualmente, abastecido por 48 empresas cimenteiras atuantes no mundo todo, cobrindo cerca de 850 unidades industriais, nele vemos, entre outros indicadores, o Brasil ocupando a posição de liderança entre os países que emitem o menor volume quantidade de CO2 por tonelada de cimento produzida no mundo, tendo estado à frente desse indicador em mais nos últimos 20 dos 30 anos das informações consolidadas.
No ano passado demos um importante passo junto à GCCA (sigla em inglês, da associação mundial de cimento e de concreto), sendo escolhido como um dos 5 primeiros países a integrar o programa global de elaboração de roadmaps nacionais Net Zero em Carbono.
O ambicioso projeto ampliará o alcance do Roadmap em curso, lançado em 2019, não somente sobre o processo produtivo do cimento, mas também sobre o uso do produto no concreto e na construção, de forma a alcançar a neutralidade em carbono no seu ciclo de vida até 2050.
A iniciativa vem num momento mais do que oportuno, quando se discute no âmbito nacional a descarbonização dos setores industriais – e da economia como um todo – na esfera setorial e federal.
Entre os principais pontos de preocupação da indústria do cimento na criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) estão a inclusão dos setores regulados na instância deliberativa, além da atual participação no já formado comitê consultivo.
Além disso, verificamos um notável avanço na proposta legislativa no que diz respeito a planos de permissão de cotas de emissão, a implementação gradual com a definição de metas a serem cumpridas, a composição de uma estrutura consistente e transparente para monitoramento, relato e verificação, a interligação com outros mercados internacionais, a possibilidade de compensar emissões e reciclagem de recursos para incentivar a adoção de medidas de mitigação.
No entanto, ainda ficaram pendentes no texto do PL relevantes preocupações da indústria brasileira: o princípio da proporcionalidade de suas obrigações, ou seja, cada setor deve se limitar a compensar as suas efetivas emissões e considerar os ganhos pretéritos de mitigação nas propostas futuras de metas setoriais.
A indústria nacional do cimento desempenha um importante papel com a sustentabilidade, principalmente no que tange a questão da substituição de combustíveis fósseis por fontes alternativas de energia.
A atividade de coprocessamento responsável pela transição energética em nossa cadeia produtiva atingiu sua melhor marca em 2022, antecipando a meta prevista para 2025. Foram 3,035 milhões de toneladas de resíduos processados, sendo 2,856 milhões de toneladas de combustíveis alternativos e 179 mil toneladas de novas matérias-primas adicionais. Ao todo, foram cerca 2,9 milhões de toneladas de CO2 evitados no período.
Com essa tecnologia, o setor mantém seu compromisso e segue atuando na redução das emissões de CO2, com o uso de diversos tipos de resíduos tais como biomassas, resíduos industriais, pneus descartados, e o mais recente com a utilização do CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos), constituído principalmente pelo lixo doméstico, em substituição ao coque de petróleo, combustível mais utilizado no processo de fabricação de cimento.
Até 2030, a indústria cimenteira prevê investimentos na ordem de R$ 3,5 bilhões, compreendendo a implantação das unidades de preparo do CDR e a adequação das fábricas de cimento. Esse montante será suficiente para atingir o patamar de aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de CDRU anualmente. Para melhor compreensão do impacto ambiental, tal volume, que corresponde a cerca de 300 mil caminhões coletores, que não serão mais descarregados em aterro. Essas iniciativas vão possibilitar uma redução de aproximadamente 3 milhões de toneladas de CO2, equivalente a emissão de 965.000 carros.
Na pauta da inovação, o acordo de cooperação técnica com a Universidade de São Paulo (USP), por meio da Escola Politécnica, para a criação de um espaço focado em pesquisa e desenvolvimento a favor da construção digital (hubIC), alcançou ao final de 2022, resultados significativos, como a produção das primeiras peças cimentícias em 3D e a adesão de mais de 30 companhias ao ambiente de construção digital. Já em 2023, incluiu à sua pauta projetos de inteligência artificial e de produção de novos cimentos de baixo carbono.
Todas essas iniciativas reforçam o compromisso do setor cimenteiro nacional com a descarbonização, que levaram a indústria a posicionar-se como uma das maiores referências mundiais em termos de ecoeficiência e inovação em seu processo produtivo.
Ações que apontam para os novos e definitivos caminhos da cadeia produtiva da construção, que é o tema central do 8º Congresso Brasileiro do Cimento que acontece de 6 a 8 de novembro na capital de São Paulo.
E a realização desse encontro técnico e político/institucional reforça a colaboração da indústria cimenteira no desenvolvimento de alternativas e soluções construtivas para que em parceria com o setor público e privado trabalhemos juntos e a favor da melhoria na qualidade de vida que as cidades, as pessoas e o Brasil necessitam.
Fonte: CNN