Redução do auxílio emergencial e desemprego impactam vendas do cimento
As vendas de cimento no Brasil acumuladas até novembro continuam registrando alta no período, no entanto, foi o pior resultado mensal desde junho deste ano.
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC), o volume de vendas em novembro totalizou 5,3 milhões de toneladas, um crescimento de 11,7% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado do ano (janeiro a novembro), os números também foram positivos, alcançando 56 milhões de toneladas, aumento de 10,4% comparado ao mesmo período do ano passado.
Mas ao se analisar a venda de cimento por dia útil de 240,2 mil toneladas em novembro, a queda é de 5,2% comparada ao mês anterior – o que pode indicar que o período de maior crescimento no ano tenha ficado para trás.
A redução do auxílio emergencial, da poupança e das reservas pessoais (daqueles que fizeram reformas), a queda da confiança do consumidor e do empresariado e o desempenho da construção civil abaixo do projetado para o segundo semestre foram causas objetivas do menor volume de vendas de cimento em relação aos meses de junho a outubro de 2020.
Em razão da redução de 50% do auxílio emergencial, a região Nordeste tem seu desempenho abaixo do histórico observado durante o período de recuperação de vendas (junho a novembro). Nesta região, 44% da população vive com menos de R$ 420 por mês e sem o benefício seu poder de compra cai drasticamente, afetando de modo significativo a performance de vendas do setor.
“A confiança dos consumidores recuou pelo segundo mês consecutivo em novembro, de acordo com estudo (1) da FGV, reflexo da piora da situação atual e das expectativas para os próximos meses. A incerteza relacionada à continuidade da pandemia e seu potencial impacto sobre a economia geram a desconfiança. Com a provável extinção dos benefícios emergenciais, muitos consumidores sentirão pela primeira vez, de fato, o impacto da pandemia na renda familiar. Ao mesmo tempo, os empreendedores (2) da construção civil também de mostraram um menor otimismo sobre o desempenho da atividade.”
Paulo Camillo Penna –Presidente do SNIC
Horizonte de incertezas
Enquanto não tivermos com clareza a disponibilidade da vacina e um programa de vacinação em massa, a economia seguirá em risco de desaceleração acentuando a perda de confiança dos consumidores (1) e empreendedores (2) – que tiveram queda em seus índices.
Pelos consumidores (1), o aumento da incerteza continua devido ao iminente fim do auxílio emergencial, ao desemprego em alta (3) e à falta de perspectivas da criação de novos postos de trabalho que substituam a renda do benefício governamental.
Já a confiança dos empresários (2) da construção recuou, refletindo uma piora das expectativas em relação à demanda e ao ambiente de negócios nos próximos meses. O movimento deu-se nos três segmentos da construção civil – Edificações, Infraestrutura e Serviços Especializados – indicando a insegurança com as elevadas incertezas do cenário geral.
Mesmo com as obras em andamento (4) e a geração de mais de 138 mil postos de trabalho até outubro deste ano, o PIB do setor registrou uma queda de 7,8% no acumulado até setembro. Na mesma direção, o número de lançamentos (5) apresentou uma redução de 10,5%, comparando o terceiro trimestre de 2020 com o mesmo período do ano passado, número abaixo das projeções do setor.
As incertezas são ainda maiores, pois além do término do apoio financeiro do governo à população e os crescentes índices de desemprego, o risco inflacionário, o aumento dos custos e o déficit fiscal podem atrapalhar o investimento em infraestrutura e, consequentemente, o enfrentamento da crise no país.
A indústria do cimento é um setor muito sensível ao cenário macroeconômico e aos estímulos governamentais. Por isso, é fundamental a aprovação das reformas (administrativa e tributária), a MP que trata do programa habitacional “Casa Verde Amarela” – com a regularização fundiária e o financiamento às reformas -, a volta do investimento em obras de infraestrutura (via recurso público, concessões ou parcerias público/privada) e iniciativas economicamente sustentáveis (veja abaixo) que contribuam para a redução de riscos do setor e o desenvolvimento do país.
A precificação de carbono
Atento à discussão e proliferação de instrumentos de precificação de carbono no mundo, a indústria do cimento lançou no dia 27 de novembro último um documento em que norteia os caminhos e premissas que considera fundamentais para contribuir com essa agenda no país.
Em seu posicionamento, a indústria do cimento defende a importância do reconhecimento das ações e esforços históricos, referência global pelas baixas emissões de CO2, bem como a preferência por um sistema de comércio de emissões em detrimento da taxação. Isso irá alavancar a competitividade e a inovação industrial, entre outros pontos relevantes.
A atividade cimenteira tem apresentado soluções apontadas por seu Roadmap Tecnológico, que prevê a redução de 33% de CO2 até 2050, principalmente a partir de adições ao clínquer e combustíveis alternativos, caminhos para a mitigação de gases de efeito estufa do setor, no Brasil e no mundo.
Fontes:
1. Índice de confiança do consumidor (FGV); 2. Índice de confiança empresarial (FGV); 3. PNAD; 4. Abrainc e 5. CBIC