Setor imobiliário e compras antecipadas freiam a queda do cimento em abril
Depois de um trimestre ligeiramente negativo de vendas (-0,3% 1T20 x 1T19), causado principalmente pelo represamento das compras de cimento em janeiro e fevereiro por conta das fortes chuvas, que atingiram diversas partes do país, e pelo início do isolamento social e desmobilização de setores da economia, iniciados em março, a previsão do setor para abril era pessimista.
No entanto, por conta da estratégia comercial de algumas empresas que anteciparam compras – em razão do salto do dólar que impacta o custo do cimento – somada à continuidade das obras imobiliárias, os números da indústria não despencaram.
Outro fator positivo foi o setor de concreto ter continuado em pleno funcionamento desde o início da pandemia, garantindo um fluxo contínuo na demanda por cimento e na execução de obras. Com isso, as vendas de cimento por dia útil em abril, melhor indicador do setor, registraram 185,5 mil toneladas, um aumento de 9,8% em comparação ao mês de março e de queda de 2,5% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado do ano (jan-abril), o desempenho é um pouco mais realista, 1,9% menor do que o mesmo intervalo do ano passado. Já o volume de vendas de cimento em abril somou 4,1milhões, uma queda de 6,9% em relação ao mesmo mês de 2019 e crescimento de 1% em relação a março deste ano.
Dentro do cenário de pandemia, a indústria investiu pesadamente na segurança sanitária das fábricas, implantando medidas rígidas de assepsia, distanciamento e de escalonamento de equipes, visando a preservação da saúde de toda a força de trabalho da cadeia produtiva do cimento, a manutenção de empregos e o funcionamento das fábricas. Além disso, aproveitou o período para antecipar manutenções programadas entre ou trasações de mitigação.
“No acumulado (janeiro/abril) já observamos uma queda significativa nas vendas e que pode se acentuar em maio e junho, sob o risco de prejudicar todo o ano. Isso seria uma interrupção na retomada do crescimento, verificado em 2019, o primeiro positivo depois de quatro sucessivos anos de queda. A indústria do cimento continua empenhada em proteger as vidas dos seus trabalhadores, mas acredita que a construção civil, alavanca de crescimento da economia e da geração de empregos, precisa continuar sendo pilar de sustentação do desenvolvimento do país e, por isso, ser amplamente apoiada pelos governos federal e estaduais.”
(Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC e da ABCP)
Perspectivas – o que vem pela frente?
Como divulgado, o setor tinha a expectativa de crescer mais de 3% em 2020, sobre 2019, o primeiro ano positivo depois de quatro períodos de recessão do setor. Apesar de abril apresentar um pequeno crescimento em vendas absolutas em comparação a março, 1%, o volume acumulado (16,8 milhões) já aponta para baixo e dificilmente deve ser revertido no restante do ano, a exemplo do impacto da greve dos caminhoneiros em 2018, que tirou 900 mil toneladas de circulação em apenas 10 dias de paralisação.
“O cenário imposto pela pandemia de COVID-19 é quase indecifrável neste momento e nos exige, diariamente, rever nossas projeções. O que temos hoje é uma fotografia e não um filme que poderá nos indicar com maior acuidade os cenários que teremos à frente”, completa Paulo Camillo Penna.
Até o momento, apesar de já estarmos quase completando o segundo mês de isolamento social, ainda não foi possível sentir um impacto grande de queda da massa salarial, com diminuição do emprego e da renda, que deve ser mais evidente em maio. Tudo isso, acompanhada de uma queda na confiança do empresariado em geral, reduzindo investimentos de médio e longo prazo.
Se isso se concretizar, o setor deve sentir bastante, com a possibilidade de voltarmos ao desempenho do período de crise, entre 2015 e 2018.