Venda de cimento recua pelo segundo ano seguido no país
As vendas de cimento no Brasil recuaram 1,7% em 2023, em comparação com 2022. Foram vendidas 62 milhões de toneladas do material, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
É a segunda queda anual após recuo de 2,8% em 2022. Até então, no triênio 2019-2021, mesmo com a pandemia de Covid-19, o setor registrou crescimentos de 3,8% em 2019, 10,8% em 2020 e 6,8% em 2021, tendo recuperado 12 milhões de toneladas das 19 milhões perdidas no período 2015-2018.
A taxa de juros se manteve elevada durante todo o ano, começando com 13,75% e fechando com 11,75%. Mesmo após o ciclo de queda iniciado em agosto, o mercado ainda não sentiu os efeitos da política do Banco Central. A alta taxa de juros tem reflexo no preço final do financiamento imobiliário, incentivando a migração de recursos para produtos financeiros, além de impactar fortemente os custos de produção.
Nesse sentido, o setor imobiliário, principal indutor do consumo de cimento (mais de 50% da demanda pelo insumo no país), apresentou queda significativa no número de lançamentos. O número de unidades imobiliárias financiadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) caiu 39% no acumulado até outubro.
O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), por exemplo, só entrou plenamente em funcionamento a partir do segundo semestre; houve também redução no lançamento de novos empreendimentos para as classes média e alta, assim como do volume destinado ao crédito imobiliário.
Apesar da recuperação do mercado de trabalho e da redução do desemprego, a renda da população não se comportou da mesma forma. Os salários ainda estão no nível pré-pandemia, ou seja, sem ganho real há três anos. Esta situação reduziu o poder de compra da população e o resultado são o alto endividamento das famílias, que atingiu 47,7% em setembro, e a inadimplência recorde em 2023. O pico foi atingido em outubro, com 71,95 milhões de indivíduos inadimplentes.
As condições climáticas extremas enfrentadas ao longo do ano, com temperaturas e chuvas acima da média e seca em algumas regiões do país, refletiram na comercialização do cimento e comprometeram os cronogramas das obras.
Os baixos investimentos em infraestrutura também impactaram a venda do produto. Em 2023, o governo relançou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com previsão de desembolso de R$ 1,4 trilhão entre 2023 e 2026. Até o momento o programa não tomou a velocidade necessária e já sofreu cortes para o orçamento de 2024.
Para reverter este cenário é imprescindível ampliar os investimentos na construção civil e também adotar tecnologias sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico como ambiental. Na malha viária, por exemplo, é fundamental incluir o pavimento de concreto como opção nas licitações de ruas e rodovias, por ser um método construtivo de maior durabilidade, economia, conforto e segurança para os usuários, além de exercer menor impacto ambiental.