Vendas de cimento apresentam leve recuperação no semestre
Após um primeiro semestre marcado por um cenário de juros e endividamento das famílias elevados e eventos climáticos extremos, com chuvas intensas no Sul e seca no Centro-Oeste e Norte, as vendas de cimento acumularam alta de 1,2% em relação ao mesmo período de 2023, com a comercialização de 30,6 milhões de toneladas nos seis primeiros meses do ano.
O mês de junho atingiu 5,4 milhões de toneladas de vendas, registrando um aumento de 2,1% se comparado ao mesmo mês do ano anterior. Ao se analisar o despacho de cimento por dia útil de 238,8 mil toneladas, há um aumento de 4,6% sobre junho do ano passado e de 1,1% em relação ao primeiro semestre de 2023.
Os principais indutores do consumo de cimento desaceleraram no período em virtude da dificuldade no acesso ao crédito, em meio a taxa de juros ainda elevada, redução de lançamentos e operações de financiamento imobiliário.
A confiança da construção apresentou estabilidade em junho, registrando maior otimismo que em dezembro de 2023. No entanto, essa melhora na atividade expôs a dificuldade com a mão de obra, o que já está impactando os custos de obras. A expectativa do mercado pelo fim do ciclo de queda da Selic em 2024 deve arrefecer o ânimo dos negócios nos próximos meses.
Houve, também, maior otimismo por parte da indústria e do consumidor, que avançou em junho. Os resultados foram influenciados tanto pela melhora da percepção sobre a situação atual quanto pelas expectativas para os próximos meses.
Mesmo após o primeiro semestre do ano surpreender positivamente o mercado com a queda do desemprego e o aumento no rendimento da população, a interrupção do ciclo de queda da Selic, a piora nas expectativas inflacionárias e da situação fiscal do governo, somado ao ambiente externo mais adverso, principalmente no que tange a queda de juros nos Estados Unidos, geram incertezas para o resto do ano.
O câmbio elevado traz uma preocupação com relação ao aumento de custos de produção do cimento, principalmente do coque de petróleo, matéria-prima essencial na geração de energia no processo produtivo.
Para minimizar os impactos ambientais e a pressão dos preços do insumo, o uso de combustíveis alternativos nunca foi tão necessário. Nesse sentido, o setor cimenteiro tem investido e ampliado fortemente o uso de tecnologias como o coprocessamento.
Para avançar nessa agenda, a indústria brasileira do cimento vem empenhando esforços significativos na promoção e desenvolvimento de CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos) para fins de coprocessamento, contribuindo para o encerramento dos lixões e redução da disposição em aterros. A iniciativa já vem sendo implementada com sucesso nas regiões metropolitanas de Curitiba e Belo Horizonte.
Ao final de 2023, a indústria brasileira do cimento lançou as bases do Roadmap Net Zero para acelerar a transição rumo a uma economia neutra em carbono. O setor, que internacionalmente foi o primeiro a firmar um compromisso de neutralidade climática em escala global, dentro do programa Race to Zero da ONU, agora avança na discussão de meios para alcançar a neutralidade climática no Brasil.
O posicionamento da indústria parte do Roadmap de mitigação, lançado em 2019, que apontava meios para reduzir a emissão de CO₂ na produção de cimento; e a partir de 2023 amplia para o ciclo de vida do produto, incorporando o concreto, a construção, a eletrificação, entre tantas outras ramificações que permitam alcançar a neutralidade climática do setor até 2050.
A iniciativa vem num momento mais do que oportuno no país, quando se discute no âmbito federal o estabelecimento de metas setoriais de descarbonização, a serem estabelecidas no Plano Clima, e a implementação de um mercado de carbono para o país – com ativa participação da indústria do cimento.