Vendas de cimento sobem 10,4% em setembro e setor eleva projeções
As vendas de cimento em setembro seguiram em curva ascendente, totalizando 5,8 milhões de toneladas, um crescimento de 10,4% em relação ao mesmo mês de 2023. No acumulado do ano (janeiro a setembro), os números também foram positivos, alcançando 48,7 milhões de toneladas, aumento de 3,8% comparado a igual período do ano passado. Ao se analisar a comercialização por dia útil em setembro, de 257,3 mil toneladas, as vendas também são crescentes, com acréscimo de 2,7% sobre agosto deste ano e de 10,7% ante setembro de 2023.
O mercado imobiliário brasileiro, importante indutor no consumo de cimento, seguiu aquecido no segundo trimestre de 2024. Somente no segmento do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), os lançamentos subiram 86,7% em comparação com o segundo trimestre de 2023 e 65,9% em relação ao primeiro semestre do ano passado. A comercialização de materiais de construção e o financiamento imobiliário também seguiram tendência de alta acumulada em agosto.
Diante desse cenário, a confiança do consumidor vem crescendo gradativamente desde junho. Porém, em setembro, houve ligeira piora das percepções sobre a situação atual, influenciada pela queda no indicador de situação financeira das famílias. A maior pressão inflacionária e as incertezas fiscais têm afetado o mercado de crédito, que se tornou mais restrito.
Além disso, o endividamento elevado da população (47,9% em julho), a alta da inadimplência (45% da população adulta), a retomada da trajetória crescente dos juros e a nova mudança no perfil de consumo da população, agora representada pelas apostas on-line, impactam o orçamento das famílias e podem influenciar no consumo de cimento.
Já na construção civil, a confiança do setor apresentou queda, interrompendo quatro meses seguidos de alta. O principal fator foi a mudança de direção da política monetária. A alta na taxa de juros ocorrida em setembro e a perspectiva de novas elevações afetaram particularmente a expectativa dos empresários dos segmentos de Infraestrutura e de Edificações Residenciais. No mercado imobiliário, a majoração do crédito pode ter impacto no mercado de média renda, mas não deve atingir o segmento econômico, que está relacionado ao MCMV e recebe incentivo público.
A participação do crédito imobiliário no PIB vem perdendo força em função do ambiente de juros elevados e do esgotamento da poupança como fonte de recurso para as construções. É consenso no mercado a necessidade de procurar alternativas à poupança como fonte de recursos e aperfeiçoar instrumentos já existentes, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) ou mesmo a liberação de parte do compulsório bancário para abastecer o crédito imobiliário.
No cenário macroeconômico, os indicadores de trabalho e renda continuam positivos, porém já acende alerta para uma pressão de custos e logística. O Brasil enfrenta a maior estiagem da história recente. Da baixa dos rios no Norte, que dificulta o transporte de mercadorias, aos incêndios no Centro-Oeste e Sudeste, a seca pode impactar a venda de cimento. A escassez de chuvas e o acréscimo da conta de energia com bandeira vermelha traz preocupações ao setor.
No entanto, o cenário de franca recuperação de empregos, renda, do Produto Interno Bruto e, principalmente, do mercado imobiliário têm potencial para que as vendas de cimento fechem com crescimento em torno de 2,8% em 2024.