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29/12/2015IMPRENSA, Noticias, São Paulo

Whitetopping em cinco passos

BR 290 no trecho que liga o município de Osório à cidade de Porto Alegre, conhecido como Freeway, construído em pavimento de concreto e operado pela Concepa

(Foto: Concepa)

 

O engenheiro Marcos Dutra de Carvalho (foto), coordenador do Núcleo de Pavimentação da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), responde a dúvidas sobre recuperação de pavimentos deteriorados com concreto, falando de whitetopping e sobre as vantagens deste sistema construtivo de pavimentação à base de cimento.

 

1. Em que situações o whitetopping é mais indicado? Que vantagens essa solução agrega do ponto de vista técnico e econômico?

O whitetopping é o recapeamento de pavimentos asfálticos com concreto de cimento portland. É a evolução do conceito de que o recapeamento dos pavimentos asfálticos somente possa ou deva ser feito usando-se materiais da mesma natureza que o da estrutura existente, isto é, com misturas asfálticas.

A origem do termo whitetopping (“cobertura branca”) refere-se à execução da camada de pavimento de concreto, de cor cinza clara, com a função de base e revestimento, colocada sobre um revestimento asfáltico existente, que tem cor escura.

O whitetopping pode ser executado diretamente sobre o pavimento asfáltico, “encaixado” com fresagem ou com a remoção parcial do pavimento existente, que, neste último caso, recebe o nome de inlay. O processo é muito utilizado no Brasil para a reabilitação de corredores de ônibus urbanos. Na cidade de São Paulo, no corredor de ônibus da Av. Rebouças, optou-se pelo emprego de equipamentos de pequeno porte (réguas vibratórias e vibradores de imersão) para execução do pavimento de concreto “encaixado”, na forma de inlay.

A solução em whitetopping é vantajosa porque, com o emprego do concreto com funções de revestimento e base, as camadas inferiores ficam sujeitas a esforços muito reduzidos em comparação a um pavimento asfáltico, o que garante sua preservação e maior durabilidade.

 

As outras vantagens do whitetopping são:

  • Economia. Maior durabilidade e, portanto, maior economia, pois os custos de manutenção são mínimos, já que dispensa reforços estruturais periódicos. Os pavimentos de concreto também podem gerar economia de combustível e de material rodante, em razão da menor resistência à rolagem e de a temperatura do pavimento de concreto ser mais branda do que a temperatura de outros tipos de pavimento.
  • Técnica e desempenho. A vantagem técnica do whitetopping, além de reaproveitar toda a infraestrutura do pavimento existente, é o comportamento do pavimento restaurado quanto à sua durabilidade, que é idêntica a um pavimento de concreto novo, com expectativa de vida de serviço de 30 anos no mínimo, com mínimas necessidades de manutenção.
  • Construção.  Existe amplo domínio brasileiro sobre a tecnologia de concreto, o que é disseminado nas empresas construtoras. Os equipamentos de formas deslizantes de última geração, disponíveis no país, têm alto rendimento e produtividade, possibilitando a produção diária de grandes extensões de pista, com largura total, caracterizando grande rapidez de execução.
  • Segurança e conforto de rolamento. A aderência dos pneumáticos à superfície do pavimento de concreto é favorecida pela existência das ranhuras artificiais, evitando aquaplanagem e proporcionando menor distância de frenagem. O pavimento de concreto também tem excelente capacidade de reflexão da luz, requerendo até 60% menos iluminação em trechos urbanos, o que propicia melhores condições de visibilidade ao motorista e aumenta a segurança de tráfego, principalmente à noite ou em condições climáticas adversas. O conforto de rolamento, por sua vez, deriva do fato de os pavimentos de concreto não sofrerem deformação plástica e, portanto, não formarem trilhas de roda, além da excelente terminação superficial.
  • Ecologia e meio ambiente. O pavimento de concreto é um aliado efetivo da proteção ambiental, pois:

– É totalmente reciclável ao fim de sua vida útil;

– Requer uma estrutura menor para atender uma solicitação de tráfego do que a correspondente em outra alternativa;

– Inibe o fenômeno de lixiviação, impedindo a contaminação do lençol freático, de cursos d’água ou mananciais;

– Permite economia de combustível e redução de emissão de gases geradores do efeito estufa pela frota circulante.

Além disso, na fabricação do cimento portland, seu principal componente, é possível substituir parcialmente combustíveis fósseis por combustíveis alternativos. O cimento brasileiro tem um dos menores fatores clínquer/cimento do mundo (razão entre consumo de clínquer e produção de cimento), constituindo-se referência mundial nesse campo.

  • Normatização. O emprego do whitetopping é técnica consagrada de reabilitação de pavimentos asfálticos, dados os excelentes resultados obtidos com as obras já executadas, sendo a sua construção regida por procedimentos normatizados, conforme detalhado na norma DNIT 068/2004 – ES – Pavimento Rígido – Execução de camada superposta de concreto do tipo whitetopping por meio mecânico – Especificação de Serviço.

 

2. Quais são os principais controles que o contratante pode adotar na execução de serviços de pavimentação com whitetopping?

Os controles para a execução do whitetopping são os mesmos necessários para a execução dos pavimentos de concreto tradicionais. São necessários os controles tecnológicos do concreto, como a medida da consistência, pelo abatimento pelo tronco de cone, do teor de ar incorporado e da resistência à tração na flexão, bem como da espessura das placas executadas e das camadas subjacentes. São necessários também os controles topográficos das camadas que compõem o pavimento, a fim de garantir que as cotas das camadas acabadas sejam aquelas definidas no Projeto Executivo de Engenharia.

 

3. Na hora de elaborar uma licitação, quais são os principais pontos de atenção? O que o licitante de obra deve exigir das empresas contratadas para executar esse tipo de serviço?

A licitação deverá conter a descrição dos serviços que serão executados, com os respectivos quantitativos, incluindo os procedimentos de execução e de controle da obra e os tipos de equipamentos necessários. Tudo embasado no Projeto Executivo de Engenharia, parte integrante do documento de licitação, que deverá ser seguido à risca pela empresa contratada.

O licitante deverá exigir também que as empresas contratadas atendam aos procedimentos descritos na licitação, que tenham experiência no tipo de serviço a ser contratado, comprovada por meio de atestados técnicos, e que disponibilizem mão de obra qualificada e todos os equipamentos necessários à boa execução da obra.

 

4. Há alguma referência em relação à produtividade ou velocidade de execução desse sistema?

A execução do whitetopping ou do pavimento de concreto dependerá do equipamento utilizado e da logística da obra. A execução poderá ser feita com equipamentos de grande porte, com vibroacabadoras de formas deslizantes, de grande produtividade – até 1 km por dia -, abastecidas por usinas dosadoras e misturadoras de concreto. Ou pode ser feita com equipamentos de médio ou pequeno porte, de menor produtividade, como as acabadoras de formas fixas, de cilindro giratório ou réguas vibratórias, respectivamente.

As vibroacabadoras, de formas deslizantes e de grande produtividade, são utilizadas em obras rodoviárias e em obras urbanas que permitem a sua movimentação, sem interferências, como é o caso de alguns corredores de ônibus e BRT’s (Bus Rapid Transit ou Sistema de Transporte Rápido), em execução em cidades como Curitiba e Rio de Janeiro, por exemplo.

 

5. Quais são as principais etapas de execução do whitetopping?

Em resumo, são as seguintes:

  • Escolha e definição dos equipamentos que serão utilizados, em função das peculiaridades da obra e das especificações contidas no Projeto Executivo de Engenharia.
  • Planejamento e detalhamento da logística da obra, feitos a partir do Projeto Executivo de Engenharia.
  • Definição dos materiais que serão utilizados, incluindo aí os estudos de tecnologia do concreto, em função do tipo de equipamento que será empregado na obra. No caso de execução com equipamento de pequeno ou médio porte, o concreto é fornecido pré-misturado, em caminhões betoneiras, devendo atender às especificações do projeto. No caso da execução com vibroacabadoras de formas deslizantes, o concreto é produzido em usinas dosadoras e misturadoras, de grande porte, e fornecido em caminhões basculantes.
  • As etapas de execução são aquelas típicas dos pavimentos de concreto tradicionais, isto é:

– Preparo da fundação (subleito e sub-base), para o caso de pavimento encaixado (inlay), ou do pavimento asfáltico existente (whitetopping tradicional), se for o caso;

– Assentamento das linhas guias, para o caso das vibroacabadoras de formas deslizantes, ou das formas metálicas fixas, para o caso da execução com acabadoras de cilindro giratório ou de réguas vibratórias;

– Colocação das barras de transferência e de ligação;

– Lançamento, espalhamento, adensamento e acabamento do concreto;

– Texturização superficial;

– Cura e proteção do pavimento acabado;

– Serragem e selagem das juntas.

  • Cabe ressaltar que, havendo necessidade de liberação rápida ao tráfego, pode-se utilizar o concreto de alta resistência inicial, configurando a tecnologia fast track de liberação rápida do concreto, já empregada em obras de pavimentação urbana de concreto no Brasil.

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